Foram os Olhanenses de antanho muito ciosos da sua independência face aos poderes instituídos. São exemplos disso a construção da Igreja Matriz, a criação do Compromisso Marítimo e a revolta contra os Franceses.
É nessa perspetiva que se compreende que depois dos anos complicados das lutas liberais, o povo olhanense procurasse uma convivência tácita entre liberais e absolutistas em busca da tão almejada autonomia administrativa em relação a Faro.
No entanto, quando os governos liberais ditaram algumas leis impensáveis para o povo, como foi a da proibição dos enterramentos nos adros das igrejas, a diferença de ideologia sobrepôs-se e não raros foram os confrontos entre membros das duas fações, fossem elites abastadas ou simples marítimos.
No início da segunda metade do século XIX, o Movimento da Regeneração ocupou a vida política nacional pois reclamava uma mudança que levasse ao progresso do país e o colocasse ao nível de desenvolvimento dos outros países europeus. Assim nasceram o Partido Regenerador e o Partido Progressista, opostos na ideologia, mas equilibrados no poder decisório, através do sistema governativo chamado Rotativismo.
A Vila de Olhão não ficou de fora do Movimento nem desses partidos.
Conscientes da sua importância para o progresso local, depressa os Olhanenses se distribuíram por esses dois partidos, e os que na altura podiam ser eleitores elegeram Regeneradores para os diferentes executivos camarários, donde se salientam nomes como José Maria e Pádua e João Lúcio Pereira.
“No Partido Regenerador enfileiram logo os liberais olhanenses mais moderados ou mais conservadores, juntando-se-lhes depois, a pouco e pouco, alguns absolutistas do resto do Concelho que se foram convertendo às ideias liberais, ou acharam conveniente aos seus interesses fazê-lo; no Partido Progressista enfileiraram imediatamente os liberais mais avançados, a «ala esquerda liberal» como hoje se diria, e com eles alguns outros de tendências mais ou menos extremistas […]. Mais tarde, entre 1880 e 1890, uma pequena parte dos Progressistas passou-se para o Partido Republicano Português, organizado poucos anos antes; e as tendências mais extremistas, que começavam a fazer certo ruído na vila, como adiante se verá, embora continuando a ser em pequeno número, abandonaram os Progressistas e passaram a auto intitular-se socialistas uns, outros anarquistas” (Antero Nobre)
Entre 1876 e 1880 fixaram-se no Concelho de Olhão uma secção do Partido Socialista Português e outra do Partido Republicano Português.
Mas, apesar deste acompanhamento político, não se pode dizer que houvesse uma verdadeira compreensão política e politizada do povo olhanense.
Essa consciencialização só iria entranhar-se no povo com a influência dos primeiros jornais olhanenses na vida local, sobretudo a de O Porvir e a de O Futuro.
Pode mesmo dizer-se que foi a ação de propaganda daqueles dois jornais que levou à efetiva politização de todo o povo olhanense e despertou uma consciência proletária nos operários das três principais indústrias de Olhão e que conduziu a população à agitação política e social decorrente do movimento nacional de indignação e protesto provocado pelo Ultimatum Inglês de 1890 e a repressão da revolução republicana de 31 de Janeiro do ano seguinte.
Os ideais republicanos misturaram-se com os ideais progressistas e ambos encontraram eco na vida dos olhanenses em prol de uma melhoria das condições de vida e desenvolvimento da Vila. Por isso não é de estranhar que quando a 12 de Outubro de 1910 tomou posse a Comissão Administrativa do Município, que foi praticamente a primeira Câmara Municipal do Regime Republicano, os seus membros fossem quase os mesmos da Comissão Concelhia do Partido Republicano Português, donde se destacava José Feliciano Leonardo e Diogo da Silva Cristina.
Ofício da Comissão Administrativa para o governo republicano, em Lisboa |
Temos, assim, a seguinte cronologia da existência de partidos políticos em Olhão até à implantação da República:
1846/47 - Rivalidade entre liberais e absolutistas, muito feroz nos meios rurais e alimentada essencialmente por velhos ódios pessoais e meras questões familiares.
1852 - Os olhanenses liberais distribuem-se pelos Partidos Regenerador e Progressista.
1876 - Existência, na Fuseta, de uma secção do Partido Socialista Português.
1880 - Implantação do Partido Republicano Português na Vila e Concelho de Olhão.
1888 - Inicia a publicação o semanário O Porvir, primeiro jornal olhanense.
1891 - Inicia a publicação o semanário O Futuro, em substituição de O Porvir, suspenso pelas autoridades concelhias e distritais.
1902 - Implantação do Partido Regenerador Liberal (Partido franquista), que passa a preponderar numericamente na Vila e seu Concelho.
Quadro dos Partidos Políticos existentes em Portugal
até à Ditadura
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