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sábado, 27 de janeiro de 2024

Olhão e as suas Lendas - IV

 A Moura Floripes



Diz-se que a Floripes, uma infortunada moura encantada, vivia no Moinho do Sobrado, situado na Banda do Levante, num arrabalde do lugar e com caminhos escusos.

Em frente do moinho morava um homem de meia idade, o compadre Zé, o qual constantemente se embriagava. Contava ele aos amigos que à meia noite aparecia a moura Floripes, a fazer-lhe carícias e com ele conversar.

Um dia fez uma aposta com um deles, o Julião, aceitando este ir até lá, por volta da meia noite. Se a moura não aparecesse, o compadre oferecia-lhe uma fazenda que possuía no sítio da Relva, como prenda de casamento - Julião ia casar em breve - caso contrário a oferta ficava sem efeito.

O amigo movido pela ideia de ganhar a prenda e também pela curiosidade de ver a moura, aceitou o desafio.

Pelo caminho tudo o assustava, as pernas tremiam-lhe, tinha medo até da própria sombra. Quando soaram as doze badaladas da meia noite, estava em frente do moinho e, bem assim junto da casa do compadre.

Aguardou um bocado, nada de rumor. Pensou: - Caí nesta do compadre Zé.  Sentou-se numa pedra e quando já nada esperava, viu surgir da porta do moinho uma rapariga, de cabelos loiros compridos e um rosto encantador tapado com um véu. Perguntou-lhe quem era e por que estava ali, ouvindo por resposta: - Sou a moura Floripes, e estou aqui por que quando os da vossa raça conquistaram esta região, na pressa da fuga, os meus familiares não tiveram tempo de me levar no barco e meu pai encantou-me. Prometeu que em breve e numa noite escura o meu namorado me viria buscar. Por isso, de noite tenho sempre os olhos postos no mar para lobrigar algum luzeiro. Como até aqui ele não apareceu, penso que terá naufragado com alguma tempestade.

Julião inquiriu como deveria proceder para a tirar do encanto. Era necessário um homem ferir-lhe o braço do lado do coração e juntamente com ela ir para o Norte de África, atravessar o mar transportando duas velas acesas, e casar após a chegada. 

 

O rapaz ficou triste dizendo-lhe que tinha noiva, o casamento marcado para breve e não iria faltar à promessa. Julião rejeitou a proposta.


A Floripes nunca mais apareceu.


Também se dizia que quando a Floripes ia fazer compras pagava a despesa com uma moeda de ouro e desaparecia sem receber "as voltas"


Versão de Conceição Pires

 

 

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