Importante é preservar a memória dos lugares. OLHÃO é a minha Cidade.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Olhão visto por...

 

Mário Lyster Franco

 

Para ver Olhão e disfrutar a maneira de ser, característica da curiosa vila algarvia, não basta visitá-la como se visitam muitas outras terras, percorrendo as suas ruas e avenidas principais, de pretensões muito legitimamente modernas, entrando numa ou noutra igreja e admirando uma ou outra coisa de interesse local. Em Olhão, não basta ainda percorrer as ruas do curiosíssimo bairro da «Barreta», autentico labirinto de vielas tortuosas e por vezes estreitíssimas, com as suas casas sempre caiadas, as paredes por vezes revestidas de ladrilhos postos ao alto e caiados também — no Algarve caia-se tudo ! — e os recantos angulosos, por onde um biôco se escoa, num rasto de mistério impenetrável. Isto que já é curioso, que seria por si só recomendável, não é tudo, não chega

mesmo a ser o principal. Para se ver Olhão, é preciso subir. Torna-se mister bater a uma ou a outra porta, que se abre sempre com facilidade, trepar por uma escadinha estreita e empinada, mas de fácil utilização, e ir até ao mais alto que se possa.

Torna-se indispensável subir a uma açoteia, tarefa aliás facílima, para ver as outras açoteias e os mirantes, de linhas angulosas e esbeltas, sobressaindo aos milhares aqui e acolá, estes mais alto que aquele, todos brancos e irregularmente dispostos, autênticos cubos de cartão ou dados de jogar dispersos sobre as casas, e com peitoris e escadas exteriores de tijolo e ladrilho, também caiadas e lançadas por sobre arcos aviajados de primorosa linha, e tudo de tal forma irregular e desencontrado, que surpreende, que encanta, que fere a vista pela sua brancura que se não descreve, que quási estonteia e inebria. 

 

in Almanaque do Algarve

1947 

 

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