O chamado cão de água do Algarve, classificado por Lineu como canis aquaticus, oriundo de Olhão e espécie hoje quase desaparecida, com características próprias do mais alto valor e de maior nome mundial, prestou, décadas atrás, inestimáveis serviços aos marítimos olhanenses.
Considerado como o mais inteligente de todos, de faro apuradíssimo. robusto, nadador incansável e resistente à fadiga, mergulhador como não há outro, o cão de água do Algarve, muito superior ao Terra Nova, foi utilizado, durante muitos anos pelos pescadores da nossa terra como seu auxiliar, não só a bordo dos barcos de pesca, como também aos navios mercantes.
Conhecido lá fora por Caniche ou Barbet do Algarve, «é um animal bem proporcionado, de 50 a 55 centímetros de altura, pelo comprido, lanudo, anelado e revolto, orelhas largas e pendentes, cabeça curta, coberta de pelos muito compridos, corpo roliço e grosso, pernas robustas, mas curtas, cauda de comprimento médio, bem prolongada quase horizontalmente; a cor da pelagem pode ser branca-suja, cinzenta, preta, acastanhada».
Todos os barcos de pesca de Olhão tinham ao seu serviço cães de água. A sua missão era a de ir buscar um cabo, rede partida, qualquer objeto que tivesse caído e, sobretudo, o peixe que se escapava da rede ou do anzol» Assim que isso acontecia, o cão atirava-se rapidamente ao mar, «indo ao encontro do peixe fugidio, agarrando-o com a boca, sem lhe causar dano, voltando para bordo, nadando sempre, até ser recolhido com a sua presa pelos pescadores».
Os cães, tal como os tripulantes, ganhavam uma parte. Depois de pagas todas as despesas, o produto líquido da venda do pescado era dividido pela tripulação em partes iguais e o precioso auxiliar canino nunca era esquecido nessa divisão. A sua parte, destinava-se, claro está, ao seu sustento.
O cão de água era também utilizado pelos marítimos para guardar o barco e seus apetrechos, atirando-se de pronto a qualquer estranho que pretendesse pôr os pés dentro do barco. Muito dócil e afeiçoado ao dono, compreendia com facilidade as ordens que lhe eram dadas» Além destes predicados, era ainda excelente guia de cegos e ótimo auxiliar dos banheiros das praias.
Abílio Gouveia, 1979
Foto: Net
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