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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A Igreja Pequena (I)

A Capela da Nossa Senhora da Soledade - Igreja Pequena




A Capela de Nossa Senhora do Rosário que, como se diz no texto, é a que ainda hoje existe sob a invocação de Nossa Senhora da Soledade e o povo designa por Igreja Pequena, foi a primeira Igreja Paroquial de Olhão; a actual invocação foi-lhe dada exactamente quando se construiu e abriu ao culto a nova Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Rosário, que o povo designa por Igreja Grande. 
Não se sabe ao certo quando aquela Capela foi edificada; mas não há dúvida nenhuma de que foi o primeiro edifício de alvenaria, ou de pedra e cal como lá se diz ainda hoje, construído em Olhão, pois na altura em que da sua existência temos a mais antiga notícia, ainda ali só havia, além dela, simples «cabanas de cana cobertas de palha». O Cónego José Cabrita, da Sé de Faro, já citado em nota anterior, num dos seus artigos publicados no semanário «Correio do Sul», daquela cidade, afirma ter encontrado referências à existência de tal Capela nas visitações da primeira década do século XVII, portanto entre 1600 e 1610, quando o Lugar do Olhão pertencia já à Freguesia de S. Pedro de Faro; e J. Fernandes Mascarenhas encontrou, e publicou num dos seus trabalhos, um documento da Freguesia de Quelfes que prova a existência da mesma Capela em 1614. Por outro lado, Ataíde de Oliveira, em artigo não documentado, pois nele nem sequer se diz de onde lhe veio a informação, publicado em 1913 no jornal farense «A Mocidade», afirma que, uma senhora, cujo nome não indica, mas disse ser irmã de Martim Enes de Lagos e esposa do fidalgo Afonso Madeira, este que teria sido muito dedicado à causa do Mestre de Avis, depois D. João I, fundou «em terras de Marim» uma Capela de Nossa Senhora da Soledade; e tal afirmação, aliada à circunstância de não haver notícia, nem quaisquer vestígios, de outra Capela ou Igreja em toda a área de Marim, levou Abílio Gouveia, em 1976 e num dos seus valiosos artigos publicados em «A Voz de Olhão», a considerar que se tratava exactamente da Igreja Pequena de Olhão e ter sido esta construída, portanto, no século XIV. Não é inverosímil que assim tivesse sido, visto que, pelo menos no último quartel daquele século, como mostra a carta régia de D. Fernando, referida na nota anterior, já o sítio onde se encontra a Capela tinha habitantes; só é de estranhar, e muito, que sendo tal sítio já então comummente distinguido dos sítios vizinhos e conhecido por Logo do Olham, ao ponto de assim ser designado numa carta régia, ainda nessa altura se fale de construção de uma Capela «em terras de Marim» e não «em terras do Logo do Olham»... 


E como complemento desta nota, diga-se desde já que o aspecto actual da Igreja Pequena é bastante diferente do primitivo, pois a sua fábrica sofreu grandes danos por ocasião do terramoto de 1 de Novembro de 1755 e na reconstrução foi modificada, pelo menos, a sua traça exterior; e mais tarde, para regularização da rua que lhe fica contígua e ainda hoje se chama Rua do Compromisso, foram suprimidos: um pequeno cemitério que ficava junto da Capela e devia ser resto do primitivo adro, onde foram sepultados, como era uso nesse tempo, os primeiros mortos olhanenses; e um também pequeno anexo da Capela, onde se expunha, em nicho envidraçado, a imagem de Nosso Senhor Jesus dos Passos, muito venerada pelos marítimos olhanenses desde tempos imemoriais.

Breve História de Olhão, Antero Nobre

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