A Capela da Nossa Senhora do Rosário - A Igreja Pequena
Localizada no limite Norte da
aldeia de pescadores de Olhão no século XVII, com a fachada principal voltada a
Sul, para a localidade, a actual capela de Nossa Senhora da Soledade foi a
primeira igreja matriz da povoação. A sua construção remonta à primeira metade
de Seiscentos, altura em que Olhão despontava já como pólo proto-urbano a
nascente de Faro, graças à sua activa e florescente comunidade piscatória.
De planta longitudinal composta por
nave única e capela-mor quadrangular (esta coberta por uma cúpula oitavada), a
igreja é uma obra barroca relativamente modesta, mas que denota alguma riqueza
artística de âmbito regional, como a existência de uma cúpula (elemento que
procurou alcançar alguma da monumentalidade cenográfica que caracteriza o
período barroco). A fachada principal acentua a relativa simplicidade do
projecto, ao organizar-se num corpo único de três andares, onde se inscreve um
portal de arco recto e um grande janelão vertical, terminando em empena
triangular irregular, cujo tímpano é decorado por um brasão sobrepujado por
cruz. No interior, o espaço é amplamente iluminado por três pontos focais:
lateralmente (por janelões na parede Norte da nave); verticalmente (através do
lanternim da cúpula) e longitudinalmente (pelo grande janelão da fachada
principal).
A autonomia concelhia dos olhaneses, conseguida em 1695, levou à
construção de um templo de maiores proporções e de outro impacto urbanístico e
cenográfico. No mesmo século em que havia sido construída, a primitiva matriz
deixava de corresponder à imagem de poder e de autonomia de uma população em
ascendência. Em 1715, o novo tempo tutelar da paróquia abria ao culto e
transferiam-se, solenemente, os sinos da antiga matriz para a recém inaugurada
igreja. Com esta mudança, a Soledade passava à condição de capela, utilizada
para funções essencialmente devocionais e funerárias, como ainda hoje acontece.
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Altar-mor |
Todavia, a transferência da sede
religiosa não significou uma menor atenção por parte da comunidade de Olhão em
relação ao seu primeiro templo. Se, em 1734, há a notícia de que uma parede se
encontrava muito arruinada, não deixa de ser verdade que, meio século depois,
houve recursos económicos suficientes para a feitura de um novo retábulo-mor.
Este, foi contratado pelo Compromisso Marítimo, a 18 de Maio de 1779, com o
entalhador farense Manuel Francisco Xavier, "o mais prestigiado entalhador
algarvio no período rococó" (LAMEIRA, 2000, p.326) e, certamente, um dos
mais caros artistas da época (na altura já em fim de carreira), facto que
comprova o relativo desafogo económico da confraria dos marítimos de Olhão.
Com a actualização estética do
ponto fundamental de religiosidade do interior da igreja, fechava-se um
capítulo na história do templo. Depois dessa grande empreitada, só chegaram
referências de obras menores de consolidação e de conservação dos elementos já
existentes, como terá acontecido em 1855. Na actualidade, a função de apoio à
igreja matriz, servindo de capela mortuária, é a principal função deste templo.
Em todo o caso, mantém-se como um dos imóveis mais emblemáticos da cidade, não
apenas pela componente de memória que encerra, mas, também, pela sua
localização privilegiada, nas traseiras do Compromisso Marítimo (actual museu)
e no mesmo conjunto urbano que a Igreja Matriz.
Direcção-geral do Património Cultural