Os Palcos e os Grupos de Arte Dramática
A prosperidade económica, o aumento
populacional e o desenvolvimento urbano da vila de Olhão na segunda metade do
século XIX alicerçaram determinadas exigências no plano social e levaram ao nascimento de novos hábitos
culturais, a que não foram alheios “os
forasteiros de algum modo cultos que ali se fixaram, e também de alguns
naturais que entretanto viajaram e até estudaram em centros importantes do País
e do estrangeiro” .
Destes
novos hábitos culturais nasceu o gosto pela representação teatral.
Em
1860, foi criado na Sociedade
Recreativa Olhanense, o primeiro grupo olhanense de teatro amador, dirigido por
Júlio César Dantas
Mauvert.
Em 1880,
esse grupo inicial ganhou autonomia e instalou um pequeno teatro, com frisas e
camarotes, num armazém situado
num gaveto formado pelas Ruas do Sol-Posto e de Faro, mas cuja entrada
se fazia pela rua do Dr. Pádua. Pelo seu palco passaram reputados artistas de
Lisboa. Este teatro desapareceu por volta de 1900.
Em 1891,
o Actor Palhais, fixou residência em Olhão e instalou numa barraca nas Prainhas
(hoje Largo da Feira), um Teatro onde levou à cena o que de melhor se fazia no
país.
O início do século XX foi também
auspicioso. Novos grupos de teatro amador apareceram e as sociedades
recreativas alargaram o seu leque de actividades, acolhendo nos seus
palcos peças de teatro e de revista.
Em 1902,
o Actor Domingos instalou e dirigiu o Teatro Lisbonense, dando continuidade
ao trabalho do actor Palhais, no mesmo local e com êxito semelhante.
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Actor Domingos António de Almeida, provável director do Teatro Lisbonense |
Em 1903,
o Grémio Recreativo Olhanense, criado em 1888, “constrói no seu vasto salão de festas um palco, por onde irão desfilar
não só os grupos de amadores teatrais locais, mas até as companhias dos teatros
da capital do País”
O
Grupo Teatral Amador Filo-Dramático foi fundado em 1910. Nesse mesmo ano, sobe ao palco do Grémio Recreativo Olhanense,
com a famosa revista de costumes locais No
País da Murraça. É neste Grupo que Ilda Stichini, grande nome do teatro
nacional nas décadas posteriores, inicia a sua vida artística.
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Ilda Stichini (1895-1977) |
Em 1912, foi construído
e inaugurado o Cinema-Teatro, na Avenida da República, que se tornará na grande
sala de espectáculos de Olhão e cuja época de ouro se situou nas décadas de 20
e 30 e 40 do século XX.
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Local onde foi construído o Cinema-Teatro, à direita da foto |
Tendo
sido inicialmente um simples barracão de madeira coberto de zinco, cujo acesso
se fazia por uma larga escadaria exterior, sofreu, em 1915, a sua primeira
remodelação com a substituição da fachada de madeira por outra de tijolos,
passando a escadaria exterior para o interior. Em 1943, modificou-se a fachada
exterior e a disposição da plateia. Em 1946, foram substituídas as paredes e a
cobertura tendo em vista a melhoria das condições de segurança contra incêndios exigida por lei. Antes desta
década de remodelações, um lugar na plateia custava 1$50, mas os estragos
causados pelo ciclone de 15 de fevereiro de 1941 elevaram para 3$00 o preço do
bilhete.
No
seu palco, grandes nomes da vida cultural olhanense deram vida a peças de
teatro ou revistas à portuguesa de contexto local, quer com os seus textos,
quer com as suas composições musicais, ou até mesmo com a sua presença enquanto
atores amadores.
Foram
famosas as revistas Charro do Alto Peixe
Gordo, Estás a pisar o risco, Vai de Ronquion, Na ponta da unha e Toca a Música.
Porém, a mais recordada de todas foi a Revista Pita e Fanga, de 1935, ensaiada
por Mário Mascarenhas, com músicas de Arnaldo Martins de Brito e Manuel Casaca,
letras de Adriano Baptista e Antero Nobre e cenários próprios de zonas locais
pintadas por Miguel Ramos Alberto. Nela, pontuaram nomes como António Garrocho,
Joaquim Nardo, Francisco Nascimento Pina, cantor de excecionais recursos
vocais, e Joaquim Vaz, o Vázinho, que apresentou pela primeira vez a célebre carta
do Pescador Olhanense. Foi também nesta Revista, e para fechar o primeiro acto,
que o pianista e compositor olhanense Manuel António Casaca compôs a marcha
«Viva Olhão!», com letra de Francisco Pina e Antero Nobre, que depois foi
adotada pelos olhanenses como hino da sua terra.
O
Salão Apoio foi construído em 1915, num
terreno conhecido como Pedras do Tarraco, pertencente a Feliciano Leonardo
Tarraco, e que se situava no começo da Rua 18 de Junho, junto à Avenida da
República, ao lado da casa do proprietário, onde atualmente está o edifício dos Correios.
Era
um barracão de madeira e zinco, que oferecia razoável conforto em cadeiras
individuais.
Pelo
seu palco passaram, por mais de três décadas, peças teatrais das melhores
companhias portuguesas em digressão pela província. E foi no seu palco, nos
anos 30, que a actriz Ilda Stichini foi homenageada pelos seus anteriores
companheiros do grupo amador com que se estreara.
Mas
o Salão Apolo também foi a “casa” dos diversos grupos dramáticos que Olhão
conheceu e cedeu o seu palco para récitas literárias e teatrais tão diversas
como a escrita pelo Dr. Silva Nobre e apresentada pelas crianças da escola
primária oficial, intitulada Se eu fosse
Homem.
O
Salão Apolo desapareceu em 1946, por já não apresentar condições de segurança.
Em
1918, foi criada a Sociedade
Recreativa Progresso Olhanense, “ que
viria a cultivar também o teatro amador com grande êxito”, dispondo para o
efeito de um dos melhores palcos do Algarve, onde foram representadas, nas
décadas seguintes, peças teatrais e revistas, nomeadamente Açoteias e Mirantes, cujas canções eram da autoria de Adriano
Baptista.
O
Grupo Dramático Amador Olhanense, um dos mais importantes da sua época, foi
criado em 1920.
Em
1927, os interesses culturais dos estudantes
olhanenses que frequentavam o Liceu de Faro foram motivo para a criação do
Grémio Académico Olhanense, dirigido inicialmente por Antero Nobre, José Gomes de Brito Barbosa e
Joaquim José dos Reis Júnior. O Grupo, instalado na Rua João de Deus e
posteriormente na Rua Capitão João Carlos de Mendonça, desenvolveu intensas actividades
literárias, donde se destacaram as récitas de teatro amador, entre as quais a
comédia O Sapatinho de Cetim,
ensaiada por Antero Nobre e apresentada no Salão Apolo.
O
Grupo Cénico Capricho Olhanense nasceu em 1929.
Fontes:
José Barbosa, Visto e ouvido em Olhão, Reflexões
Antero Nobre, Breve História de Olhão