O CEMITÉRIO MUNICIPAL DE OLHÃO
![]() |
O Cemitério de Olhão (velho), num postal com carimbo de 1922. |
Apontamentos sobre o Cemitério de Olhão:
…E como complemento desta nota, diga-se desde já que o aspecto actual da Igreja Pequena é bastante diferente do primitivo, pois a sua fábrica sofreu grandes danos por ocasião do terramoto de 1 de Novembro de 1755 e na reconstrução foi modificada, pelo menos, a sua traça exterior; e mais tarde, para regularização da rua que lhe fica contígua e ainda hoje se chama Rua do Compromisso, foram suprimidos: um pequeno cemitério que ficava junto da Capela e devia ser resto do primitivo adro onde foram, sepultados, como era uso nesse tempo, os primeiros mortos olhanenses; e um também pequeno anexo da Capela, onde se expunha, em nicho envidraçado, a imagem de Nosso Senhor Jesus dos Passos, muito venerada pelos marítimos olhanenses desde tempos imemoriais….[…]
Antigamente
os enterramentos eram feitos no solo da nave da Igreja Paroquial (o das pessoas
mais importantes da terra) e no adro anterior da mesma Igreja. Passado
determinado número de anos e para dar lugar a outros enterramentos, as ossadas
eram retiradas dali e guardadas no ossuário da Igreja (todas as Igrejas
Paroquiais tinham o seu ossuário), a que o povo chamava carneiro, e que ficava na parte posterior da Matriz olhanense,
exactamente onde hoje se encontra a capelinha de Nosso Senhor dos Aflitos. O
ossuário era assinalado exteriormente por uma espécie de nicho envidraçado
(aquele que ainda hoje lá está, no interior da capelinha) dentro do qual se
encontrava (e encontra) um grande crucifixo, que a Confraria das Almas, a cargo
de quem estava a conservação das sepulturas e do ossuário, mandava alumiar todas as noites; e o povo
olhanense, que teve sempre em grande conta o culto dos mortos, como já em outro
capitulo dissemos, ia ali rezar quando passava perto e sobretudo à noite. A
devoção popular chegou a ser, mesmo, tão grande que, quando se construíram as
casas para a Fábrica da Igreja, a que já nos referimos em outra nota, deixou-se
o nicho num oratório, com porta
gradeada para a rua. Proibidos depois os enterramentos na Igreja, nas condições
e circunstâncias que referimos no capítulo anterior, a Confraria das Almas foi
encarregada de indicar locais para a construção de um cemitério, o que fez,
acabando o Município por preferir o Alto do Pau Bolado. O ossuário deixou então
de servir, mas o povo continuou a sua devoção no oratório onde estava o nicho que o assinalava; e de tal modo que
o nicho foi transformado numa pequena capela, esta que sofreu várias outras
transformações ao longo dos anos, sendo o seu aspecto actual resultado de obras
efectuadas praticamente já nos nossos dias (1948).
O Alto do Pau Bolado ou Alto do Barro Vermelho
era, em 1826, o cume da maior elevação de terreno sobranceira à vila, uma
colina cujas encostas Nascente, Sul e Poente começavam, respectiva e
praticamente, onde hoje se situam: a confluência das modernas Rua 18 de Junho e
Avenida da República, a confluência desta com a Rua Diogo de Mendonça Côrte-Real
e os actuais troços médios e Norte da Rua Almirante Cândido dos Reis. Os
sucessivos nivelamentos do terreno impostos pela urbanização quasi fizeram
desaparecer essa colina, mas, há sessenta anos ainda se apresentava muito
nítida na topografia da vila e era então popularmente designada por Serrinho
do Cemitério.
Logo em 1852, a Câmara Municipal, dispondo agora já de mais rendimentos pela posse da maior parte do
Termo da vila, que entretanto se verificara, começa a construir um cemitério (que seria inaugurado em 1 de Novembro do ano
seguinte) no Alto do Pau Bolado ou Barro Vermelho e, para facilitar o
respectivo acesso, constrói uma
estrada sobre o caminho que era a única saída da localidade por terreno seco; e não tarda muito que essa estrada comece a orlar-se de
edificações, dando
origem ao troço médio da actual Rua 18 de Junho e alargando assim a
vila, em poucos anos,
praticamente até àquele Alto.
Antero Nobre, in História Breve da Vila de Olhão da Restauração