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terça-feira, 24 de maio de 2016

Vida Social - Teatro

Os Palcos e os Grupos de Arte Dramática



A prosperidade económica, o aumento populacional e o desenvolvimento urbano da vila de Olhão na segunda metade do século XIX alicerçaram determinadas exigências no plano social  e levaram ao nascimento de novos hábitos culturais, a que não foram alheios “os forasteiros de algum modo cultos que ali se fixaram, e também de alguns naturais que entretanto viajaram e até estudaram em centros importantes do País e do estrangeiro” .
Destes novos hábitos culturais nasceu o gosto pela representação teatral.

Em 1860, foi criado na Sociedade Recreativa Olhanense, o primeiro grupo olhanense de teatro amador, dirigido   por   Júlio   César   Dantas  Mauvert.

Em 1880, esse grupo inicial ganhou autonomia e instalou um pequeno teatro, com frisas e camarotes, num armazém situado num gaveto formado pelas Ruas do Sol-Posto e de Faro, mas cuja entrada se fazia pela rua do Dr. Pádua. Pelo seu palco passaram reputados artistas de Lisboa. Este teatro desapareceu por volta de 1900.

Em 1891, o Actor Palhais, fixou residência em Olhão e instalou numa barraca nas Prainhas (hoje Largo da Feira), um Teatro onde levou à cena o que de melhor se fazia no país.

O início do século XX foi também auspicioso. Novos grupos de teatro amador apareceram e as sociedades recreativas alargaram o seu leque de actividades, acolhendo nos seus palcos  peças de teatro e de revista.

Em 1902, o Actor Domingos instalou e dirigiu o Teatro Lisbonense, dando continuidade ao trabalho do actor Palhais, no mesmo local e com êxito semelhante.

Actor Domingos António de Almeida, provável director do Teatro Lisbonense

Em 1903, o Grémio Recreativo Olhanense, criado em 1888, “constrói no seu vasto salão de festas um palco, por onde irão desfilar não só os grupos de amadores teatrais locais, mas até as companhias dos teatros da capital do País”

O Grupo Teatral Amador Filo-Dramático foi fundado em 1910. Nesse mesmo ano, sobe ao palco do Grémio Recreativo Olhanense, com a famosa revista de costumes locais No País da Murraça. É neste Grupo que Ilda Stichini, grande nome do teatro nacional nas décadas posteriores, inicia a sua vida artística.

Ilda Stichini (1895-1977)
 
Em 1912, foi construído e inaugurado o Cinema-Teatro, na Avenida da República, que se tornará na grande sala de espectáculos de Olhão e cuja época de ouro se situou nas décadas de 20 e 30 e 40 do século XX.

Local onde foi construído o Cinema-Teatro, à direita da foto

 Tendo sido inicialmente um simples barracão de madeira coberto de zinco, cujo acesso se fazia por uma larga escadaria exterior, sofreu, em 1915, a sua primeira remodelação com a substituição da fachada de madeira por outra de tijolos, passando a escadaria exterior para o interior. Em 1943, modificou-se a fachada exterior e a disposição da plateia. Em 1946, foram substituídas as paredes e a cobertura tendo em vista a melhoria das condições de segurança  contra incêndios exigida por lei. Antes desta década de remodelações, um lugar na plateia custava 1$50, mas os estragos causados pelo ciclone de 15 de fevereiro de 1941 elevaram para 3$00 o preço do bilhete.


 
O Cinema-Teatro na década de 30/40


No seu palco, grandes nomes da vida cultural olhanense deram vida a peças de teatro ou revistas à portuguesa de contexto local, quer com os seus textos, quer com as suas composições musicais, ou até mesmo com a sua presença enquanto atores amadores.
Foram famosas as revistas Charro do Alto Peixe Gordo, Estás a pisar o risco, Vai de Ronquion, Na ponta da unha e Toca a Música. Porém, a mais recordada de todas foi a Revista Pita e Fanga, de 1935, ensaiada por Mário Mascarenhas, com músicas de Arnaldo Martins de Brito e Manuel Casaca, letras de Adriano Baptista e Antero Nobre e cenários próprios de zonas locais pintadas por Miguel Ramos Alberto. Nela, pontuaram nomes como António Garrocho, Joaquim Nardo, Francisco Nascimento Pina, cantor de excecionais recursos vocais, e Joaquim Vaz, o Vázinho, que apresentou pela primeira vez a célebre carta do Pescador Olhanense. Foi também nesta Revista, e para fechar o primeiro acto, que o pianista e compositor olhanense Manuel António Casaca compôs a marcha «Viva Olhão!», com letra de Francisco Pina e Antero Nobre, que depois foi adotada pelos olhanenses como hino da sua terra.


Grupo de Teatro
1º plano, deitado: Manuel António Casaca 
2ª fila, da esquerda para a direita: 4º - Arnaldo Martins 
3ª fila, da esquerda para a direita: 4º - António Garrocho; 5º Vazinho ou Joaquim da Silva Vaz

 
Vocacionado também para a apresentação de sessões de cinema, manteve quase exclusivamente essa atividade até ao final do século XX, quando entrou e em decadência e posterior ruína.

O Cinema-Teatro na década de 90 do século XX

A ruína actual

O Salão Apoio foi construído em 1915, num terreno conhecido como Pedras do Tarraco, pertencente a Feliciano Leonardo Tarraco, e que se situava no começo da Rua 18 de Junho, junto à Avenida da República, ao lado da casa do proprietário, onde atualmente está o edifício dos Correios.
Era um barracão de madeira e zinco, que oferecia razoável conforto em cadeiras individuais.

 
Salão Apolo, à direita na foto, na Rua 18 de Junho
 
Pelo seu palco passaram, por mais de três décadas, peças teatrais das melhores companhias portuguesas em digressão pela província. E foi no seu palco, nos anos 30, que a actriz Ilda Stichini foi homenageada pelos seus anteriores companheiros do grupo amador com que se estreara.
Mas o Salão Apolo também foi a “casa” dos diversos grupos dramáticos que Olhão conheceu e cedeu o seu palco para récitas literárias e teatrais tão diversas como a escrita pelo Dr. Silva Nobre e apresentada pelas crianças da escola primária oficial, intitulada Se eu fosse Homem.
O Salão Apolo desapareceu em 1946, por já não apresentar condições de segurança.

Em 1918, foi criada a Sociedade Recreativa Progresso Olhanense, “ que viria a cultivar também o teatro amador com grande êxito”, dispondo para o efeito de um dos melhores palcos do Algarve, onde foram representadas, nas décadas seguintes, peças teatrais e revistas, nomeadamente Açoteias e Mirantes, cujas canções eram da autoria de Adriano Baptista.
 

O Grupo Dramático Amador Olhanense, um dos mais importantes da sua época, foi criado em 1920.


Em 1927, os interesses culturais dos estudantes olhanenses que frequentavam o Liceu de Faro foram motivo para a criação do Grémio Académico Olhanense, dirigido inicialmente por  Antero Nobre, José Gomes de Brito Barbosa e Joaquim José dos Reis Júnior. O Grupo, instalado na Rua João de Deus e posteriormente na Rua Capitão João Carlos de Mendonça, desenvolveu intensas actividades literárias, donde se destacaram as récitas de teatro amador, entre as quais a comédia O Sapatinho de Cetim, ensaiada por Antero Nobre e apresentada no Salão Apolo.

O Grupo Cénico Capricho Olhanense nasceu em 1929.


Fontes:
José Barbosa, Visto e ouvido em Olhão, Reflexões 
Antero Nobre, Breve História de Olhão