Importante é preservar a memória dos lugares. OLHÃO é a minha Cidade.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Vida Social - O Clube Verdi


O Club Verdi


Orquestra Club Verdi


O Club Verdi foi fundado em 1870 pelo Dr. José Maria de Pádua (Pai). Reunindo numa orquestra 23 instrumentos de sopro e cordas, executou afamados concertos de música clássica não só em Olhão mas também em várias localidades algarvias. 


O Dr. José Maria de Pádua (1831-1891) foi um reputado médico, magistrado judicial e músico olhanense. Foi também Presidente da Câmara Municipal de Olhão entre 1864 e 1867. Se no campo da medicina e da magistratura teve um percurso notável , também não o foi menos no campo da música onde as suas competências como pianista, regente musical e compositor foram reconhecidas a nível nacional.


Fonte: Antero Nobre, Doze Olhanenses que muito honraram a sua terra

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Rua do Comércio



A Rua do Comércio já se chamou Rua do Rosário, mas os olhanenses sempre se lhe referiram como Rua das Lojas.

Nasceu com um traçado estreito que ligava os bairros ribeirinhos ao largo da Igreja Matriz e foi, desde sempre, um eixo urbano da maior importância não só por acolher a maior parte da vida comercial como também por alojar as instituições públicas que foram sendo criadas na vila. Testemunha da sua importância é o facto de ter sido a primeira rua a ser calcetada em 1838.

Rua do Rosário, provavelmente na 1ª década do século XX

No início do século XX, o dinamismo da Vila de Olhão reflectia-se na Rua das Lojas: escritórios de advogados, médicos e de empresas conviviam com estabelecimentos comerciais variados que incluíam alfaiates, ourivesarias, camisarias, drogarias e ferragens, sapatarias, cafés e outros. A rua era, toda ela, "um mostruário de Olhão, da sua maneira de viver e sentir".



Recordemos, então, o seu movimento na década de 20, nas palavras de João Villares:

O movimento era intenso, as carroças que transportavam o peixe do cais, para fábricas espalhadas pela vila, faziam por ali o seu caminho de ida e volta [...]

Por outro lado, muitas pessoas montadas nos seus burricos, vinham ali fazer compras, e os animais ficavam à porta, enquanto os donos se aviavam nas lojas.

Em todo este bulício, uma nota constante. Era o matraquear dos socos e dos cloques [...].

Lá estava o Balance, a vender ceriais, as favas e as ervilhocas, e do outro lado quase em frente, uma pitoresca casa onde uma senhora vendia pagelas religiosas, sanguessugas, repolhos, ervas para curar as mais diversas mazelas e no tempo próprio, ali apareciam melões e melancias, expostas à porta. Era a loja da Mariazinha do Albino. 

De lembrar ainda a casa de fazendas do senhor Joaquim da Silva Nardo, que no fundo do estabelecimento, tinha um pipo de vinho, onde reunia os amigos para cavaquearem e beberem uns copos.

Podia-se ver a mercearia do José Ventura, moderna, asseada de luxuosa apresentação, onde as pessoas do campo não ousavam entrar.

Podíamos espreitar a barbearia "Chic", do Justino Abeilardo, conhecido pela alcunha de "Pai do Céu", anunciando no "Correio Olhanense" que a sua casa era a mais higiénica e luxuosa de Olhão e a única que tinha "Cadeiras de Sistema Americano". E já agora, para desespero daqueles que hoje têm que ir ao barbeiro, informamos que este símbolo de modernidade e asseio, cobrava por cada barba oito tostões, lavagem da cabeça dez tostões, e corte de cabelo e barba, dois escudos e cinquenta centavos.

Logo de manhã, viam-se as creadas com o seu cesto na ida ou vinda dos mercados das verduras ou do peixe. O ruído das ferraduras dos burros, misturava-se com o pregão de alguns vendedores, e as vozes das vendedoras de figos e de mel, numa colorida gritaria.

Os comerciantes de roupa feita, à falta de montras, dependuravam à porta e às janelas, as capas, os fatos e as carapuças.

Outros mais ousados, para chamarem a atenção, como fazia a Casa Brasil, ligavam um altifalante ao gramofone, e espantavam o público com esta novidade revolucionária.

Ali apareceu a primeira tabuleta luminosa, e coisa incrível, uma coisa mesmo mágica, um outro apresentou um "placard" luminoso onde se podiam ler as notícias do dia.

Da parte da tarde este rumor, esmorecia um pouco. Era a hora de as senhoras saírem à rua para passear e ver o que havia de novo nos estabelecimentos das modas. Entrava-se nos Armazéns do Chiado ou na Casa Africana para ver as últimas novidades ou os novos tecidos, ou ía-se à Sapataria Elite[...].

Espreitava-se o Atelier Moderno, onde por um preço módico, se podia transformar ou tingir os chapéus, ou comprar o último modelo, cópia fiel de aquilo que se estava a usar em Paris.

O tempo fez calar o barulho dos socos e das chalocas.

As carruagens foram proibidas de estacionar nessa rua, e mais tarde só autorizadas a descer e por fim foi vedada sua passagem por ali.

Rua do Comércio, anos 50


Em 1933, a Rua das Lojas passou inteiramente a pedonal, e durante mais três ou quatro décadas manteve o seu brilho e vivacidade.

Rua do Comércio, anos 60

Rua do Comércio, anos 70



Citação retirada de:
"Olhão e Abílio Gouveia", João Villares

 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Edifício da Alfândega



A Alfândega


O grande desenvolvimento económico apresentado pela Vila de Olhão no segundo quartel do século XIX, nomeadamente através do comércio marítimo, justificou a criação de uma Alfândega em 1842, com um quadro de pessoal privativo constituído de começo por um diretor, um tesoureiro, um verificador, um escrivão de receita, um escrivão de carga e descarga, um porteiro, um meirinho, quatro guardas de bordo, um patrão e três remadores.

Os serviços foram instalados num edifício existente junto ao mar, virado para a então chamada Praça do Comércio, mais tarde designada de Largo da Alfândega e depois, definitivamente, Largo Patrão Joaquim Lopes. A casa seria, nas palavras de Ataíde Oliveira, pertença dos herdeiros de António Alberto.

Edifício da Alfândega à direita. As casas no centro da imagem, sendo a da direita um forno,  faziam parte da extinta Rua José Pacheco.


Também aí esteve alojada a Capitania do Porto de Olhão até à sua transferência para o local onde ainda se encontra.


O imponente edifício, com dois telhados de duas águas e com chaminés, dispunha de uma fachada principal donde sobressaía, para além das  7 janelas de madeira pintada de branco com varandas de ferro forjado, um frontão decorado por cima da platibanda. As portas de madeira eram pintada de castanho.





Pormenor do frontão da fachada principal
 
O peso dos anos e algum descuido na sua manutenção deram-lhe um ar bastante degradado no final do século XX.


O edifício da Alfândega em 1997

Na primeira década deste século foram levadas a cabo obras de restauro e requalificação.
Presentemente o edifício tem sofrido alterações no seu traçado exterior original, nomeadamente nas portas do rés do chão, ocupado por estabelecimentos e nas janelas do primeiro andar que alberga a sede local do Partido Socialista.

O edifício da Alfândega em 2015